sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

"Tatuagem": Militância da livre sexualidade e cinema de primeira

Cefas Carvalho

Que o cinema pernambucano há uns dez anos vem sendo o mais criativo e ousado do país, nem se discute. Obras como o pioneiro (ainda de 1997) "Baile perfumado", a triologia de Cláudio Assis ("Amarelo manga", "Baixio das bestas" e "A febre do rato") e "Era Uma Vez Eu, Verônica", entre muitos outros, confirmam isso. Contudo, tive o prazer de assistir na telona do cinema (sessão Cine Cult-RN no Cinemark) aquele que pode ser o símbolo ideológico desta cinematografia, por aliar forma e conteúdo à uma ideologia libertária e geográfica que funciona sexual, emocional e culturalmente.
Trata-se de "Tatuagem", de Hilton Lacerda, justamente o roteirista de "Baile...", "Amarelo..." e "Febre...". Muito já se falou sobre o plot: Em 1978, pena época da malfadada ditadura militar, uma companhia de teatro alternativo que se apresenta em um cabaré (no sentido europeu da palavra) de periferia, Clécio (o sensacional Irandhir Santos), que tem um relacionamento com Paulete (Rodrigo Garcia, espetacular), é atraído por um jovem recruta, "Fininha" (Jesuíta Barbosa). A partir daí, a trama segue os desenlaces emocionais dos personagens paralelamente com as ações teatrais da trupe.
Visceral, misturando drama com comédia (principalmente quando Rodrigo está em cena) e um viés político, "Tatuagem" é um filme essencialmente libertário. As cenas de homoerotismo são das mais ousadas e bem filmadas do cinema recente, com a intenção de deixar o espectador (principalmente o hetero) fora da zona de conforto (justamente por serem cenas românticas e belas). O clima anárquico do Chão de estrelas e a desenvoltura das cenas de carinho e sexo remetem a "Shortbus", de John Cameron Mitchel, outro filme que adoro e que funciona quase como uma militância ao livre comportamento e à livre sexualidade.
Mas, Tatuagem vai além enquanto cinema e, mesmo, política. O filme funciona não apenas na intenção, mas em tudo (fotografia, montagem, cenografia maravilhosa) e oferece cenas antológica (Clécio cantando "Esse cara" de Caetano Veloso, o roqueiro recifense Johhny Hooker inmterpretando a bela "Volta" - de sua autoria, para o filme - são cenas extremamente bem filmadas e emocionantes). Ah, a parte política é que o estilo de vida do grupo tetral, com sua liberdade sexual, de drogas e artística, colide com o que pensa a ditadura (defendida estranhamente hoje por algumas pessoas...) de maneira que a ação do Chão de Estrelas ganha um viés político.
Enfim, um filme militante da sexualidade e do afeto humanos no sentido que os são "Império dos entidos" e "Shortbus", mas que pode ser degustado enquanto cinema de qualidade (desde que você não seja homofóbico - Feliciano teria horror ao filme, ou não..., nem rea
cionário conservador). "Tatuagem", junto com o também pernambucano "O som ao redor" é o filme brasileiro do ano. E é filme para entrar na história do cinema nacional, pode escrever.

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