segunda-feira, 19 de novembro de 2012

MAGIC MIKE: O horizonte de nossas escolhas

Astier Basilio

Há um movimento duplo de passagem de bastão em “Magic Mike” (EUA, 2012), no novo filme do cineasta Steven Soderbergh. A ação se processa na ficção e fora dela. A atuação de Channing Tatum reposiciona o ator em outro horizonte. Ele não é mais só um rosto bonito. Adquiriu respeito e, certamente, terá sua carreira dimensionada depois deste papel.
Tatum interpreta o personagem que dá título à película. Mike é um stripper que está na faixa dos 30 anos. Ele encontra Alex Pettyfer, o jovem e bem apessoado Adam que se tornará The Kid, ao ser iniciado por Mike a trabalhar num clube de mulheres.
O paralelo entre vida e arte se intensifica quando sabemos que Soderbergh percebeu o potencial de uma grande história quando Channing Tatum, que também foi modelo, lhe contou que atuara, no começo da carreira, como stripper.
A exibição dos corpos, as coreografias eróticas, não se enganem, é mera superfície; algo como a troca de tiros nos bons faroestes ou o kung fu em ‘Matrix’. O melhor desse filme de Soderberg está, justamente, na maneira como os seus personagens encaram o seu futuro. Há um diálogo sensacional, a propósito. Após pagar ter uma dívida de 10 mil dólares, devido mais uma de suas irresponsabilidades, Kid comenta com Mike que ambos rirão daquilo daqui a 20 anos. “Você provavelmente, não estará nem mais vivo”, diz arrogante, cruel e inocentemente Kid.
Porém, as tensões entre perspectivas de vida se dimensionam ainda mais e no que poderia ser um espelho entre duas gerações em conflito. A de Mike, que imagina sair dessa vida, com Kid, que acredita, sim, está no melhor dos mundos, com mulheres, dinheiro e droga.
Há, no contrapelo, e silenciosamente, outra dupla geração que, de alguma maneira, espelha e amplifica o diálogo entre Mike e Kid: a do dono da casa de shows, Dallas, vivido por Matthew McConaughey, com o mais velho do elenco dos strippers, Tarzan, em atuação de Kevin Nash.
Não é à toa que a entrada de cena de Kid, inicialmente convidado para ser uma espécie de Office-boy dos rapazes, se dá quando Tarzan tem um ataque e não pode fazer o seu número; Kid entra em cena e improvisa ao som de “Like a Virgine” .
Tarzan é uma versão deformada, caricatural, do que é envelhecer levando a vida sem perspectiva, apenas, se divertindo sem ver o tempo passar. O espelho do que todos ali serão.
Surpreende o quanto Kevin Nash, um lutador que virou ator, está parecido, fisicamente, com o Mike Rourke, que fez o percurso inverso. Ele é, justamente, a outra face da moeda de Dallas, emblema do que seria dar certo neste mundo.
Há, lá fora, no mundo ensolarado dos que não se confinam no inferninho onde os desejos subterrâneos são saciados, uma outra vida cuja melhor representação está na irmã de Kid, Paige, Cody Horn. E é na tentação de atender a esse chamado que Mike se defrontará com o conforto de um mundo protegido, mas que já não lhe é mais suficiente.

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