terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sobre a morte de Oshima e o impacto de "O império dos sentidos" em um adolescente inquieto



Cefas Carvalho

Morreu nesta terça dia 15 o cineasta japonês Nagisa Oshima aos 80 anos, em consequência de uma pneumonia. O homem celebrizou-se pelo mítico e proibido O império dos sentidos. Lançado em 1976, o filme foi proibido em diversos países, incluindo o Brasil, que vivia a malfadada Ditadura Militar.
Quando eu contava dezesseis anos, já tendo assistido Veludo Azul- divisor de águas em minha vida de cinéfilo- ouvia muito falar tanto no filme de Oshima como em O último tango em Paris. Este segundo, eis que foi exibido pela TV Bandeirantes numa noite de quarta-feira, para deleite dos jovens cinéfilos que, enfim, assistiam à “cena da manteiga”. Mas, faltava O império dos sentidos, que, claro, jamais passaria na TV aberta (era final dos anos 80, não se esqueçam, época pré-DVD e pré-Dowload de filmes...). Porém, o finado Cine Ópera, na praia de Botafogo, resolve exibir o filme em poucas sessões e durante dois dias apenas. Censura, 18 anos, claro, e eu contava 17 e alguma coisa. Contudo, a barba por fazer e os cabelos compridos devem ter me feito passar por 19, 20 anos e garantiram minha entrada (meus companheiros de aventura, Cláudio e Alfredo, já contavam 18 anos).
Eis que, uma hora e meis depois, havíamos descoberto o mundo de Oshima, mais que isso, novas possibilidades onde o cinema poderia ir. Um mundo onde o sexo e o desejo podiam ser levados aos extremos e onde se poderia relatar qualquer história sem pudor. Enfim, um tapa no universo puritano e conservador. Claro que assisti outras vezes o filme, e depois parte da obra do cineasta (os ótimos Império da Paixão, Tabu e Furyo), mas, inesquecível foi a impressão que o amor (?) de Sada e o senhor Kichizo despertaram no adolescente inquieto que eu era. Muito além da pulsão sexual do filme, há o talento de Oshima, observador da sociedade, crítico dos costumes, narrador de histórias viscerais e humanas. Descanse em paz, mestre!

2 comentários:

  1. Ótimo texto, Cefas. O mestre Oshima merece todos os encômios e louros. Saudações cinéfilas e aquele abraço.

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  2. Valeu a visita, Paulo. Dia desses eu revi "Taxidermia", aquele ótimo e louco filme húngaro cujo DVD vc me presenteou. Abraço!

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