terça-feira, 13 de agosto de 2013

"Laurence anyways": A visão poética e visceral de Xavier Dolan sobre amor e transexualidade

Cefas Carvalho

Volta e meia sou pego diante de expressões artísticas - filmes, livros, artes plásticas, músicas - na qual não consigo entender minha primeira impressão delas. Causam certo impacto em mim - bom ou mal, positivo ou negativo de uma forma esquisita - que já aprendi a interpretar ao longo deste 42 anos, como saudáveis. Talvez para mim o problema seja não sentir nada, ou gostar de um forma tão banal que eu mesmo sei que o "gostar" não vai sobreviver a uma pizza pós-obra. Senti essa sensação diante das pinturas de Marlene Dumas, de alguns livros de Alberto Moravia e dos filmes de Christophe Honoré (Canções de amor e Os bem amados), um incômodo misturado com estranheza que, a longo prazo, seria não apenas produtivo, mas acarretaria uma relação posteriormente íntima e devotada com todos os citados neste parágrafo.
Tanto nhem nhem nhem para sintetizar a explicar aos leitores(as) minha sensação diante de Laurence anyways, mais recente filme do canadense Xavier Dolan, enfant terrible que antes dos 24 anos realizou Eu matei minha mãe e Os amores imaginários, dois filmes que encantaram 9 entre 10 cinéfilos e que adoro, principalmente o segundo.
Este texto não pretende ser spoiler, portanto vou registrar apenas o ponto de partida, que é simples, basicamente no início do filme e já conhecido dos cinéfilos. Laurence (o ótimo Melvil Poulpaud) namora a intensa Frederique (a estranhamente bela e sexy Susanne Clement), porém, após seu aniversário de 35 anos ele comunica à namorada e todos que não se sente confortável em seu corpo masculino e que vai começar a se vestir e agir como uma mulher.
A partir daí o filme dá uma guinada  - narrativa e estética - enfocando a jornada de Laurence em relação à sua nova vida (trabalho, amigos, namoro, vida social, tudo é afetado, claro). Dolan, como se sabe, é homossexual assumido e militante, portanto, o roteiro é escrito não apenas com propriedade e conhecimento de causa, mas com naturalidade que se faz visível. A batalha - primeiro interior, depois social - de Laurence é mostrada com paixão e compaixão (é impossível não torcer pela sua causa pessoal - como também  acontece com Ennis e Jack em Brokeback mountain, este realizado por um heterossexual, Ang Lee, com uma sensibilidade absurda).
Portanto, o filme se desenrola na luta de Laurence por autoafirmação, afirmação social, relacionamento com a mãe (a musa Natalie Baye, sempre boa atriz e cada vez mais linda com o passar dos anos) e o grande amor pela Fred, que talvez seja a estranheza maior do filme e o trunfo de Dolan. Ele, claro, usa e abusa de cenas estilizadas, com câmara lenta (a lá Kar Wai) como fizera tanto em Os amores imaginários, mas, o fato é funcionam, apesar da cara feia dos críticos.
Em suma, um filme maravilhoso sobre auto descobrimento, (trans)sexualidade e, claro, amor. Xavier Dolan acertou de novo. E lá vou eu dia desses rever o filme, já que como não sei ao certo se gostei ou não.
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