quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Iniciando o ano cinematográfico de 2014 revendo "Jules e Jim"

Cefas Carvalho

Iconoclasta que sou, não compactuo com superstição alguma. Sou daqueles de passar por debaixo de escada e afagar gato preto em sexta-feira 13. Contudo, desenvolvi ao longo dos tempos uma superstição particular que é a do primeiro filme a assistir no ano que entra. Já teve de tudo, claro. De anos iniciados com "Amarcord", "Doutor Jivago" e "Quanto mais quente melhor" até "Cantando na chuva" e "Sete noivas para sete irmãos". Teve anos, ou por morbidez ou mero acaso que iniciei os trabalhos cinematográficos com o peso de Bergman em "Gritos e sussurros". Mas, nem só de clássicos viveu minha superstição pessoal. Há tempos anos recordo que já iniciei anos com "Porky´s" e "Footloose".
Neste 2014 tive o prazer e privilégio de rever "Jules e Jim", como primeiro filme do ano. Clássico absoluto de François Truffaut, melhor filme sobre amizade da história do cinema, "Jules e Jim" (que no Brasil recebeu o subtítulo infeliz de "Uma mulher para dois" - spoiller e grosseria ao mesmo tempo) é um filme (de 1962) que, ao contrário de tantos outros, cresce com o tempo. Cada vez que o vejo ele fica melhor. Também defendo que é um dos oito, nove ou dez filmes que todo ser humano deveria assistir antes de morrer.
A história é tão conhecida que o plot é quase desnecessário. Os amigos Jules e Jim se interessam pela mesma mulher, Catherine, definida por Jules, que se casa com ela, como "uma força da natureza". O filme acompanha as relações entre os três e a inabalável amizade dos dois ao longo dos anos.
Filme onde tudo funciona, tem no espírito libertário seu maior trunfo, nestes dias de conservadorismo em ascensão (tanto que Hilton Lacerda definiu seu "Tatuagem" como um soco neste puritanismo atual do cinema brasileiro). Claro que o talento e beleza misteriosa de Jeanne Moreau funcionam como um dínamo para o filme. Quem não o viu, que o faça o mais rápido possível.

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