domingo, 4 de novembro de 2012

Filme francês fala sobre doença infantil sem pieguice e com humor

Cefas Carvalho

Não costumo gostar de filmes baseados em "histórias reais" edificantes assim como evito filme com animais fofinhos. Via de regra, são piegas, manipuladores e agridem a inteligência do espectador. Contudo, em toda regra há exceções e foi uma delas que assisti recentemente, o drama francês A guerra está declarada, candidato francês a uma vaga no Oscar de filme estrangeiro de 2011, o que, injustamente, não aconteceu.
É dificil falar sobre o filme sem ser spoiller, mas, de qualquer forma o plot também é simples e até certo ponto previsível. Em uma festa, Romeo (Jeremie Elkaim) e Juliette (Valerie Donzelli) se conhecem, flertam, brincam sobre seus nomes e se apaixonam. Rapidamente o romance vira casamento e, ato continuo, um filho. Tudo caminha em céu de bringadeiro até que o casal suspeita que o filho Adam tenha alguma doença. Os médicos diagnosticam um tumor cerebral no menino e a necessidade de operação urgente. A partir daí a vida tranquila dá lugar a um tempo sem fim em hospitais e todas as crises advindas da doença da criança.
Como a sinopse é igual a de dezenas de filmes pavorosos que passam com frequência na Sessão da Tarde da Rede Globo, é necessário duas observações:
1) O filme, dirigido pela protagionista Valerie Donzelli é baseado em sua experiência real (o pai do filho é justamente o co-protagonista, Elkaim, e ambos escreveram o roteiro juntos).
2) Com todo o drama da situação o filme não cai na pieguice. Os personagens vivem suas contradições seus paradoxos, o casal deixa o filho em tratamento no hospital e vai para festas com os amigos, briga, faz as pazes, pede empréstimo, enfim, vive a vida como ela é, apesar da doença e da dor.
Desta forma, A guerra está declarada é uma pérola do cinema francês atual, com um tema intenso, boas interpretações, direção segura e uma trilha sonora maravilhosa, que mistura música erudita e clássicos do pop. Como curiosidade uma cena - que mereceu críticas - em que o casal pára uma cena para cantar uma canção, bem à moda dos filmes de Christophe Honoré. Tem quem odeie. Eu gosto, quando funciona. Claro que o filme tem lá suas falhas (os pais dos protagonistas são sem vida e estereotipados, algumas reações parecem caricatas), mas nada que nem de longe comprometa o filme, que já merece seu lugar entre as boas coisas produzidas no cinema nos últimos anos.

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